Crédito da foto: Sarah Nutt.
Carla Picolli comenta os resultados de um estudo da USP e dá dicas para reduzir a estatística
Uma pesquisa de cientistas da USP e da Unifesp revela que dormir mal é uma realidade para mais da metade dos brasileiros. O estudo foi divulgado na Sleep Epidemiology e associou o agravamento dos distúrbios do sono ao cenário da pandemia. Para Carla Picolli, psicóloga e especialista do sono, a relação é coerente, já que o emocional interfere diretamente na forma de dormir. “A preocupação tira, literalmente, o sono das pessoas. O medo de contrair a doença, a apreensão de acompanhar o ápice da mortalidade por Covid-19 no Brasil e no mundo e incertezas sobre a estabilidade financeira, certamente afetou muitos de nós. Associado a isso, muitas pessoas migraram para o trabalho remoto, deixando de ter uma rotina estabelecida com horários fixos, o que também interferiu nos padrões de sono”, acredita Carla.
O estudo considerou diversas razões que interferem na dificuldade de dormir. A especialista ressalta que, nem sempre, esse problema é causado por distúrbios, podendo haver influência de fatores externos. “Nem sempre quem dorme mal tem algum transtorno, ou problema de saúde – como apneia ou ansiedade – relacionado. Às vezes, o sono de quem dorme ao lado de uma pessoa que ronca muito, por exemplo, pode ser afetado. Outro ponto a se considerar é o uso de redes sociais, que aumentou consideravelmente durante a pandemia. Quem nunca ficou rolando a tela do celular na cama até de madrugada?”, pondera a psicóloga.
Outro dado curioso do mesmo estudo é o fato de que as mulheres representam um terço dos casos de noites mal dormidas. O saldo é praticamente recorrente em outros estudos nacionais e internacionais. Não existem diagnósticos precisos sobre essa relação com o gênero feminino, mas Carla levanta alguns fatores prováveis. “O desequilíbrio hormonal causado pela menopausa costuma gerar insônia nas mulheres que estão na faixa etária entre 45 e 55 anos. Mas então, como explicar mulheres jovens que dormem mal? Para mim, isso está associado ao acúmulo de funções que ainda recaem sobre nós. É uma somatória de responsabilidades: preocupações com os filhos, com a carreira, com o lar”, pontua.
65,5% dos brasileiros dormem mal, como reduzir o porcentual?
Carla Picolli afirma que é possível melhorar as estatísticas da pesquisa com dicas simples. A especialista enumerou algumas delas.
– Faça o planejamento de tarefas do dia seguinte na manhã anterior: Enumerar afazeres à noite, vai deixar o cérebro muito ligado aos compromissos, o que pode te deixar agitado(a). Insira esse check-list na parte da manhã, quando você estiver disposto e com alta capacidade produtiva.
– Jantar mais cedo: o recomendado é que a última refeição seja leve e realizada pelo menos duas horas antes de dormir. Além de reduzir o risco de refluxos, a digestão já terá sido concluída no momento de deitar.
– Prepare o ambiente: reduza a luminosidade do quarto e prepare o cômodo de forma silenciosa e confortável. Tomar um chá de camomila ou erva doce e pingar 2 gotas de óleo essencial de lavanda no travesseiro podem ajudar a ter uma noite de sono tranquila e reparadora.
– Evite telas: uma ou duas horas antes de deitar, desligue celulares, televisão e computadores para induzir ao cérebro que a hora de se desconectar está chegando.